Cientistas contam com apoio da comunidade para registrar memória histórica e cultural
Há uma preocupação mundial em preservar o Patrimônio Histórico e Cultural da humanidade, através de leis de proteção que possibilitam a manutenção das memórias e dos marcos históricos que definem a identidade cultural dos povos. Quando a construção da Usina Hidrelétrica Jirau foi iniciada, os arqueólogos foram os primeiros a prospectar o terreno para identificação dos vestígios deste passado, com o intuito de garantir o registro da história e da cultura local.
Cerca de sessenta profissionais, entre cientistas e técnicos, e mais de oitenta mil homens/hora de trabalho estarão envolvidos, durante os próximos quatro anos, com o Programa de Gestão do Patrimônio Arqueológico e Cultural da Usina Jirau. As pesquisas previstas no programa concentram-se, neste momento nas áreas do Canteiro de Obras e do Polo Industrial Porto Velho. Depois do Canteiro, as pesquisas se estenderão para a área do futuro reservatório, ampliando o conhecimento da pré-história de Rondônia.
O diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Usina Jirau, Antonio Luiz Abreu Jorge, disse que houve dificuldade em encontrar profissionais disponíveis no início da obra. “Contratamos uma empresa especializada para o resgate arqueológico na área de Jirau, que fez convênio com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)”, afirmou.
Todo o material arqueológico encontrado na área da Usina Jirau, desde o início da obra, é encaminhado aos laboratórios científicos adaptados no próprio Canteiro de Obras, local apropriado para a etapa de curadoria e análise. Com a conclusão do Programa, o material será encaminhado a uma instituição local, provavelmente a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), o que vai garantir sua permanência na região de origem.
“Ao final das pesquisas, todo o patrimônio arqueológico, histórico e cultural estudado será exposto à visitação em um Museu Cultural, a ser construído a partir do ano que vem no Polo Industrial Porto Velho”. É o que confirma o gerente de Socioeconomia da Usina Jirau, Élio Batistello.
O desenvolvimento das pesquisas é feito a partir de uma Portaria de Pesquisa emitida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que também executa todo o acompanhamento e fiscalização dos trabalhos. “Isto porque, o patrimônio arqueológico é patrimônio da União, protegido por leis e pela Constituição Federal. As obras de engenharia iniciaram somente após o estudo detalhado da área”, garantiu a arqueóloga Erika Robrahn-Gonzalez, diretora da Documento Patrimônio Cultural Ltda., empresa responsável pelo desenvolvimento das pesquisas.
Participação da comunidade
O envolvimento e a integração com a comunidade é feita através de diferentes eventos programados, na forma de exposições e oficinas culturais. O contato é ampliado, ainda, através de canais de comunicação direta, as chamadas mídias sociais. Deste modo a comunidade coloca, de forma continuada, seus comentários, dúvidas, expectativas e depoimentos sobre a história de desenvolvimento da região, podendo dialogar com os cientistas e compartilhar o seu conhecimento. A participação da comunidade no registro e resgate de sua memória e identidade cultural atende à perspectiva da Arqueologia Pública e Colaborativa que norteia todo o processo.
As pesquisas objetivam fornecer um conjunto de conhecimentos que, somados às percepções e expectativas da comunidade local, contribuirão para a construção de um Plano de Manejo que ajude a preservar, reintegrar, recuperar e promover os diversos elementos que compõem a história e a cultura da região. Assim, o Patrimônio Cultural garante maior proximidade com a sociedade da qual provém e para a qual deve contribuir como vetor de bem estar e sustentabilidade.
Integra-se ao Programa Arqueológico da Usina Jirau o estudo de uma série de itens compensatórios voltados à recuperação do patrimônio histórico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), entre outras ações. O estudo de monumentos, localidades, estruturas e todos os elementos considerados de importância para a memória local e sua cultura regional, visam manter resguardada a tradição histórico-cultural. Estão previstas as seguintes ações relativas à EFMM: recuperação da Estação Ferroviária de Guajará-Mirim, incluindo duas locomotivas, recuperação do galpão no Distrito de Abunã, construção do Centro de Memória e Cultura da EFMM do Polo Jirau e implantação de um Museu a Céu Aberto instalado sobre os trilhos em frente ao Polo.